quinta-feira, 6 de junho de 2013

A Árvore da Vida
“Deus manda moscas às feridas que devia curar.”


Quando a personagem de Jessica M. Howard, após a perda de um de seus filhos exclama: “Deus, você sabia sobre a morte dele...” Segue uma resposta visual na fotografia de Emmanuel Lubezki, com a excelente trilha sonora de Alexandre Desplat, pelas imagens entre o divino e o estranho. A reflexão de uma resposta imediata busca amparo ao desconhecido, referencias ao que acreditamos como o repouso da mente.
Deus, por quê? A personagem insiste. A sequência segue em ritmo de um descompasso do tempo. Entra direto para um possível inicio da vida, não apenas de um ser humano, mas amplia para o universo dos seres vivos. Vem implorar a vida, o filho e clama para ser ouvida. Um grande vazio. Somos apresentados à narrativa de A Árvore da Vida, sem muitas formalidades, direto ao ritmo adotado para uma história das histórias, o tempo marcado, mecânico deixa de existir e partimos para um sentir do tempo. A base encontrada para o drama se baseia em uma estrutura familiar, mais precisamente, costurada em pleno conflito, análogo ao da evolução do mundo, entre pai e filho.
A mãe ensina ao filho quando diz: “lá é onde mora Deus”. Uma clássica busca do homem para saber de sua origem, a possibilidade em se aproximar do Pai. Malick faz a citação já no prólogo do filme, o livro de Jó 38:4,7: “onde estavas tu quando eu fundava a terra? Responde-me, se tens sabedoria para isso.” Da metáfora para a avaliação imagética, no filme, sobre a distância entre o homem e Deus. Oferece a verticalidade, imensa, tanto na paisagem dos edifícios, referências das construções executadas pelo homem e como na concepção das grandes árvores apontadas para o céu. O filme nos oferece sentir a imensidão de nossas angustias direto num espaço que existe entre o corpo e a alma.
E o pai, como se posiciona? Não como um resumo de sua presença, mas em uma das falas: “Vinte e sete patentes, minhas”, uma relação com o invento e domínio. A cena seguinte conclui: mas não reverte em valor financeiro!Que domínio pode se ter da vida? O Sr. O'Brien, muito bem interpretado por Brad Pitt, traz uma maneira de encarar a vida de frente, impondo regras e assim sobrepõe seus laços familiares a uma condição de dono da verdade e de tudo. Feliz da família quando na ausência de tão rígida forma de se viver, é assim colocado no período de sua viagem a trabalho. Em que no seu retorno, traz somente objetos, uma mala cheia de consumo.
A coerente proposta de Terrence Malick, maestro nas conduções de história, direção e produção, traz um tratado audacioso na busca existencialista para a telona do cinema. Conclui ao convergir em um mesmo espaço todos nós em uma praia atemporal, traz a síntese da vida numa poética visual/filosófica, e transmite o que somos. Reforça o seu discurso que, apesar de considerar complexo pode, por meio do afeto, valorizar as relações humanas.
Retomando ao grande vazio exposto em A Árvore da Vida, o sentimento do irmão, bem sucedido. Fato que seu pai, com toda a rigidez de mundo, não conseguiu. O roteiro não se propõe a evidenciar nomes. Mas este filho, com um esplêndido silêncio cênico de Sean Penn, agora reflete a sua vida com uma dramática marca do roteiro quando, após a frase: “Se não amar, a vida passa num piscar de olhos.” e toda a sua infância passa enquanto o elevador panorâmico do prédio em que trabalha subia apenas alguns andares.
TiroTTi 
visto por DVD, gravado do canal Cult, em 5jun2013

Nenhum comentário:

Postar um comentário