sábado, 13 de abril de 2013



A casta indiana intocáveis, estrela no filme Os Intocáveis.

Vou, de início, considerar o título: Os Intocáveis, que faz uma referência a uma das castas indianas. O grupo de castas indianas segue um preceito básico no qual todos os homens são criados desiguais e tem origem em uma lenda na qual os principais grupos, ou varnas, emergem de um ser primordial com referências às partes de seu corpo. Do corpo de Brahma, saem conceitos da sua boca, braços, coxas, pés e um quinto grupo, de pessoas que nascem da poeira que cobria seus pés. A casta os Intocáveis são párias, pessoas estigmatizadas, consideradas muito impuras para serem classificadas como seres dignos. Seu trabalho se limita às atividades poluentes e impuras. Vivem e sofrem intensa discriminação, particularmente nas áreas rurais, onde quase três quartos da população da Índia vivem. Os Intocáveis são evitados, insultados, proibidos de entrarem nos templos e casas de casta superior.
O filme Os Intocáveis [direção de Eric Toledano e Olivier Nakache, 2011] busca base num livro, O Segundo Suspiro de Pozzo di Borgo, que se utiliza da fala em primeira pessoa sobre um assunto doloroso e autobiográfico que, normalmente tende ao dramático, se não por quem escreve, mas por quem o lê. O livro concentra o seu relato em pessoas diferentes, mas com indícios comuns quanto à solidão e dúvidas em viver com as dores de suas limitações física e social. Um drama em primeira pessoa para reverter ao leitor sua parceria à dor e em ainda assim, acreditar em viver. O aristocrático tetraplégico e seu acompanhante argelino isolado socialmente. No filme, que já em seu título adota a escória humana, incorpora à trama o então tetraplégico, rico e intelectual pela oportunidade da vida com o agora, um negro, descolado por suas oportunidades de vida social parisiense.
Com o gênero comédia, adotado pelo filme, direciona-se a uma leitura sem as buscas de reflexões relacionadas às discussões sociais. Como num livro de autoajuda. Leva-nos à possibilidade de participar do infortuno da doença de Philippe (François Cluzet), num convívio com seu cuidador Driss (Omar Sy) em uma total descontração de alguém formado pela e para a vida. Num esforço de análise a um produto cinematográfico que atingiu o seu sucesso de bilheteria direciono a atenção para refletir à classe de produções fílmicas com uso de histórias reais, e assim, levanto algumas questões: Por quais motivos se escolhe uma história da vida comum para escrever? Seria o fato que, o real traz mais emotividade e visto na tela ganha maior verdade de sentimentos? Já ouvi que a vida real imita a ficção [ou seria o inverso?]. Uma verdade é que vivemos um mundo da espetacularizacão. A imagem satura a nossa mente de tal forma a nos confundir sobre a relação da verdade de nossa memória imediata. Assim, podemos nos apropriar da vida [alheia] e divulgá-la noutra linguagem que não a complexa relação na vida do mundo comum. Transferir linguagem, seja a narrada por rotinas pessoais, da literatura ou do cinema, ganham outra dimensão e por si, interesse de análise. Ampliar a simbologia vivida auxilia na reflexão do convívio e do cuidado entre nós. Quais os detalhes que devem ser evidenciados? As histórias do mundo comum se perdem por entre a macro preocupação do dia-a-dia. Quem tem condições a perceber os significados dos acontecimentos ao seu redor, sejam no ambiente de trabalho ou de família, sem um referencial evidente? As figuras de linguagem podem criar referencias e ampliar a sua simbologia, deixar ainda a liberdade de escolha na análise do famoso: certo ou errado. Como romper a barreira da indiferença a investir em publicar um livro ou somente produzir um filme de pessoas comuns? Os semelhantes se anulam e perdem a força como modelos para exemplos ou simples motivos de emoção. Na era dos célebres descartáveis, precisamos de muita atenção a superar os atuais referencias de sucesso. A literatura perde força para apresentar valores. Os pensadores de outrora não tinham os adversários atuais, que revestidos da simbologia midiática criam os seres vitoriosos do nosso mundo. Ah sim, o título Os Intocáveis. Uma vez tido a escolha, já em seu título, uma postura sócio/cultural para uma reflexão aprofundada, seria mais natural tratar com maior profundidade o conteúdo. As críticas e reflexões num ambiente de entretenimento sufocam. Afinal, o filme se propôs a trazer as boas experiências de vida, viver em liberdade é o mote, deixe o espectador construir a sua própria razão pelo tema e por sua relação social. Vamos viver soltos a dogmas e situações vistas como insolúveis, vamos sonhar melhor. Faça do cinema o seu momento de soltura e aproveite a vida, se possível, seja você um negro, um deficiente ou não.
TiroTTi [13abr13]

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